quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Uma nova abordagem sobre modernidade

Aqueles que me conhecem sabem o quanto eu sou apaixonada pelas discussões referentes à modernidade. Já li diversos autores que transcorreram sobre o tema, cada um com uma visão muito peculiar, mas sem deixar de dialogar com os outros. 
A novidade é que eu li recentemente um livro do José de Souza Martins, A Sociabilidade do Homem Simples, e logo na primeira parte da obra há um capítulo intitulado "As hesitações do moderno e as contradições da modernidade no Brasil". Creio que sua abordagem está intimamente ligada com outras que considero como as mais coerentes sobre o pensamento moderno, com a diferença que esta não deixa de lado o quanto o próprio conceito da modernidade e sua vivência (ou não) estão presentes na vida cotidiana. Para se ter uma ideia, segue um trecho:

"A modernidade anuncia o possível, embora não o realize. A modernidade é uma espécie de mistificação desmistificadora das imensas possibilidades de transformação humana e social que o capitalismo foi capaz de criar, mas não é capaz de realizr. Mistifica desmistificando porque põe diante da consciência de cada ser humano, e na vida cotidiana de cada um, todo o imenso catálogo de concepções e alternativas de vida que estão disponíveis no mercado globalizado. Basta ter os recursos para consegui-lo. Mistifica desmistificando porque anuncia que são coisas possíveis de um mundo possível, mas não contém nenhum item no seu mercado imenso que diga como conseguir tais recursos, que faça o milagre simples de transformar o possível em real".(MARTINS, 2011, p. 19)

É inviável falar sobre a modernidade e não abordar o modo de produção capitalista, o progresso e a emancipação do indivíduo. A minha tese é a de que a sociedade moderna que sempre visou o progesso elegeu o indivíduo como responsável pelo seu destino, mas o próprio sistema capitalista, conforma já foi dito por Berman, destrói as possibilidades humanas por ele criadas. "Estimula, ou melhor, força o autodesenvolvimento de todos, mas as pessoas só podem desenvovler-se de maneira restrita e distorcida" (BERMAN, 1986, p. 94), pois não compartilham uma realidade e oportunidade comuns. Aliás, é certo que são desiguais.
Seria muito válido fazer uma ponte com a esfera do consumo, em especial porque sabemos que ele tem um papel importante na formação do indivíduo e por acreditar, assim como Edgar Morin, na "industrialização" do espírito com todo o avanço técnico-industrial que já obtivemos ao longo da História. No entanto, prefiro centrar este post na modernidade e não em suas ramificações.
A partir do que já foi exposto, é coerente afirmar que foi na modernidade que o homem demonstrou o que suas atividades e trabalho são capazes de realizar, mas também é notório que esse mesmo período trouxe diversas ilusões, promessas e utopias de um mundo mais igual, quando na verdade não conseguiu gerar progresso real e igualitário para compensar a miséria que trouxe consigo.
Por isso (mas não exclusivamente por isso), voltando em José de Souza Martins, a modernidade é o reino do cinismo: ela mesma denuncia suas desigualdades e desencontros. 
Se levarmos em conta esse pressuposto, existe um certo perigo ao discutirmos o nosso presente como "pós-modernidade". A dimensão conceitual da modernidade não é a coisa mais simples de se compreender, em especial porque nem sempre há um consenso geral para todos que se debruçaram e ainda persistem na discussão sobre o tema. Então, ao pensar que estamos vivendo um período pós-moderno, não somos capazes de compreender o tempo e momento preciso que vivemos sem compreender o moderno. Afinal, não se compreende um "pós-conceito", sem fazer a ligação do passado com o presente. É impossível sermos pós-modernos sem termos sido modernos, não conseguimos nos encontrar e reconhecer nesse processo, e esta é uma outra crítica de José de Souza Martins, em especial referente à (in)modernidade latino-americana: "Aqui os tempos históricos estão mesclados e confundidos no dia a dia, como estão confundidos e invertidos os estilos cognitivos dos diferentes mundos que demarcam a nossa vida social. É como se já fôssemos pós-modernos antes mesmo de chegarmos à modernidade, há muito misturando numa colagem desarticulada tempos históricos e realidades sociais" (MARTINS, 2011, p. 41).

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