quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Primeiro e único aviso

Época de eleição é a mesma coisa de sempre: pão e circo, invenção genial dos romanos e que muita gente pensa que isso é coisa da Antiguidade. Na verdade, até aperfeiçoamos o método.
É comum também, neste período, recebermos milhares de mensagens que atiram críticas por todos os lados, quando não aquelas do tipo: "Votem nas putas, porque nos filhos não adiantou" e assim por diante. Enfim, todo esse blá-blá-blá que, vamos confessar, já enjoou.
Mas como dizem que é legal estar na moda, e agora a moda é o processo eleitoral do dia três de outubro, o meu único aviso é uma reflexão simples. Não adianta votar em Tiririca, em garota de programa, em ex-BBB, em KLB, em mulher-fruta ou no campeão do rodeio internacional. Estes mal lembram de seus últimos votos e estão lá para fazer palhaçada. Mas fique atento aos bandidos de terno. Votar num palhaço é uma coisa. Votar num candidato graduado de terno e gravata que vai fazer o coletivo de palhaço é outra bem diferente. Mas em nenhum desses casos os problemas políticos brasileiros poderão ser solucionados (inclusive, às vezes nem quando votamos em candidatos com propostas interessantes a situação muda. Imagine nestes).
Votar consciente é tudo que se pode pedir, mas infelizmente não é o que estou esperando dessas eleições, principalmente em se tratando do Governo do Estado de São Paulo.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

A sociedade civil é podre

Esta frase, desde quando a ouvi (semana passada), ficou na minha cabeça e não saiu mais desde então. Para coroar a obra, um amigo deu um dvd com um documentário chamado Surplus, que serviu apenas para mostrar o quão podre é a sociedade civil - de consumo!
Uma das coisas mais chocantes, creio eu, é a combinação de imagens nos três primeiros minutos com esta fala:

A sociedade de consumo destruiu o meio ambiente. Exterminou milhões de espécies de plantas e animais. Envenenou os mares, os rios e os lagos. Poluiu o ar. Saturou a atmosfera com dióxido de carbono e outros gases nocivos. Destruiu a camada de ozônio. Esgotou nosso petróleo, carvão, gás natural e outros recursos minerais. Exterminaram nossas florestas e destruíram as deles.
Então o que resta para nós? Subdesenvolvimento. Pobreza. Dependência. Atraso. Dívida. Incerteza.
Para as sociedades desenvolvidas, o problema não é o crescimento, mas a distribuição. E não só entre elas, mas entre todos. O desenvolvimento sustentável é impossível sem uma distribuição mais justa entre todas as nações. Afinal, a humanidade é uma grande família e todos compartilham o mesmo destino. Dadas as profundas crises atuais, estamos enfrentando um futuro ainda pior que nunca nos permitirá resolver a tragédia econômica, social e ecológica de um mundo cada vez mais fora de controle. Alguma coisa tem que ser feita para salvar a humanidade. Um mundo melhor é possível!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

A (re)invenção da infância




A educação bancária é o que há de mais perverso. Desde cedo crianças são introduzidas na lógica mercantil e competitiva. Os pais matriculam seus filhos no judô, no inglês, na informática e na natação não por serem práticas saudáveis e fontes de conhecimento (este é o segundo plano), mas realmente para criar uma agenda de adulto e fazer a criança entender desde cedo que as coisas funcionam assim. Uma criança com tantos afazeres não faz o básico que caracteriza a infância: ela não brinca.
Se esta realidade concerne às famílias favorecidas economicamente, por outro lado, as crianças que enfrentam a luta diária da desigualdade e dos problemas sociais estruturais também não têm infância porque são inseridas no mundo do trabalho muito precocemente.
Então a pergunta é: existe infância, ela se perdeu ou se adaptou às várias realidades existentes e ninguém a percebeu ainda?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

A aniquilação do tempo

Gosto de falar sobre o tempo, especialmente porque este ano tenho me dedicado a leituras que envolvem esta coisa misteriosa, enigmática e, obviamente, precisa (lembrando que a precisão do tempo é uma invenção moderna)¹.
Hoje tenho uma notícia não muito agrdável. Nós matamos o tempo. Matamos, enterramos e esquecemos que ele existiu um dia. O que é o tempo? Pergunte isso para qualquer pessoa, e será possível perceber que ele se tornou uma abstração, desconectado da história e da vida.
Alguns poderão dizer que o tempo equivale a dinheiro, um velho jargão. Outros ainda poderão afirmar que quem controla o tempo possui um enorme poder nas mãos. No entanto, dificilmente surgirá uma resposta satisfatória, e isso tem uma explicação racional e precisa.
A história nos mostrou - e provou! - que se usarmos o tempo a nosso favor, podemos conquistar terras mais rapidamente, explorar e dominar lugares e povos. O importante é estar atento e ser ágil. Com os homens, o pensamento não é muito diferente: se o indivíduo souber administrar o tempo, ele poderá fazer mais coisas em menos tempo. E o erro nasceu aí. Pode até ser que mais coisas possam ser realizadas num intervalo de tempo menor, mas isso só é motivo para arrumar outros compromissos e outras coisas para fazer, até todo o tempo estar preenchido e as frestas que restarem serem usadas para a respiração - para poder continuar vivendo e assumir mais e mais atividades.
A má notícia é que como as pessoas não podem ficar paradas, tudo deve ser feito rápido, quase que instantâneo. Não existe uma pausa para reflexão. Paciência é uma palavra ligeiramente desconhecida. Tomemos como exemplo os fast-foods², a internet e sua velocidade de se conectar com o mundo em segundos, as corridas arriscadas dos motoboys (engana-se quem pensa que eles correm porque gostam de se aventurar no trânsito desorientado). Tudo isso é para nos atender agora, instantaneamente. Por isso que eu falo em aniquilação do tempo: se este venceu o espaço ao lado das técnicas que permitem a velocidade e rapidez em tudo, nós destruímos a duração e elegemos o instante. Não existe mais tempo, existe apenas fragmentos de tempo, um momento que logo em seguida é substituído por outro para, claro, encaixar com a lógica que colocamos na cabeça: fazer uma coisa, terminar ou não a mesma, e inicar outra logo em seguida.
Será que vale a pena viver aniquilando o tempo e não desfrutar os prazeres longos, profundos e intensos da vida? Será que manter-se sempre ocupado realmente faz bem para o corpo e para a mente? Por que não renunciar o ritmo alucinado e estonteante para viver melhor e aproveitar mais tudo que for possível (ainda que seja necessário abrir mão de algumas coisas e que confiemos no poder de uma escolha consciente)? Afinal, o tempo é o tecido de nossas vidas.

Notas:
1 - Citarei três formas de se conceber o tempo, de forma muito resumida. Na Antiguidade, o tempo do homem se relaciona com o tempo da natureza, da agricultura. No período medieval, também, mas o tempo social é regido principalmente pela Igreja. Somente na modernidade é que os relógios de pontiros que marcam o tempo com precisão surgem poderosamente.
2 - Fast-food não é só Mc Donald's. Qualquer comida industrial, seja miojo, enlatados ou produtos que ficam prontos em alguns minutos abrangem o conceito de fast-food. A comida que nós mesmos elaboramos (massa, tempero, recheio e etc) demanda tempo, e então não se enquadra no padrão das comidas rápidas e superficiais.