Certa vez, conheci um professor chamado Newton. Curiosamente, era um professor de Física, que levava muito em conta os rigores metodológicos e científicos de cada teoria que apresentava e cada experiência realizada.
Certo dia, enquanto eu fazia uma caminhada à medida que o Sol deixava apenas rastros no céu, encontrei o Newton em frente a um lago, após uns dois anos depois de ter me formado no Ensino Médio. Estava me aproximando dele com calma e, com toda a educação, eu o cumprimentei. O professor perguntou-me se eu sabia por que ele estava lá. Achei esta pergunta muito estranha, mas isso não foi nada perto do que ele iria dizer depois. Lembrando de seu estilo pragmático, respondi:
- Bem, Newton, na verdade eu não sei. Um lugar como este apresenta muitas razões para nós e todas essas pessoas estarem aqui. Também desconheço a resposta que mais agradaria o senhor, porém não tenho nenhuma hipótese ou teoria a respeito do fato de você se encontrar aqui e não numa conveniência, por exemplo.
Foi então que, após uma respiração profunda, ele respondeu:
- Estou aqui a fim de olhar para o passado. Quer vê-lo comigo?
Pausa dramática. O que será que o Newton estava querendo dizer? Por um breve momento, pensei que ele estivesse usando algum tipo de droga. Esta era uma explicação muito plausível para justificar sua fala. Como alguém pode ver o passado? Tudo bem que tem gente por aí que diz ser capaz de ver ou ao menos prever o futuro, mas o passado já era demais pra mim.
- Professor, sinto muito por não compreender o que você diz. Sendo assim, não posso aceitar o seu convite com naturalidade.
Pensando no papelão que eu estava fazendo, resolvi agradecê-lo pelo convite e disse que estava indo. Tendo compreendido o meu desconhecimento de seu pensamento, aproximou-se de mim e começou a explicar:
- Estou esperando o fim do dia, a chegada da lua e sobretudo das estrelas. Porque olhar para o céu é olhar para o passado. Quando você diz que a noite está linda, com um brilho diferente e olha para o céu e sente que tudo está muito bonito, você está olhando para o passado, porque o brilho das estrelas foi emitido há muito tempo e só no momento em que percebemos o brilho é quando ele chegou até nós. Mas isso não é tudo: para dizer a verdade, não importa se o céu à noite está bonito ou não; ele é sempre um reflexo do passado, e todas as vezes que você sentir a necessidade de pensar sobre algo que aconteceu de uma forma não muito racional e convencional, espere pelo fim do dia e olhe para cima. Talvez você encontre alguma resposta ou explicação.
Pausa dramática II. Ele sabia que eu sempre gostei muito de poesia, e ter falado do passado desta maneira me encantou, primeiro pelo ar poético, segundo por nunca ter pensado assim, evidentemente porque desconhecia este fato científico da Física.
Fiquei com o Newton até conseguir enxergar as primeiras estrelas. Depois daquele dia, o céu nunca mais foi o mesmo para mim.