segunda-feira, 28 de junho de 2010

O confronto que eu não queria


Agora é a hora da verdade. Duas seleções invictas vão se enfrentar. Mais que isso: a minha seleção brasileira e a seleção holandesa (a mais apreciada por mim) devem travar um confronto decisivo em que somente uma sairá com a vitória.
Não vou traçar nenhum histórico dos dois times, porque todos já sabem - ou deveriam saber - os grandes feitos de cada um, apesar da seleção dos Países Baixos nunca ter ganho uma copa, o que ressalta a sede, a vontade incomparável de trazer o título. Quem lembra da Holanda de Rinus Michaels sabe que o Heráclito da era moderna por muito pouco não realizou o grande sonho que toda seleção de futebol tem.
Em terras mais tropicais, o hexa seria a glória, em especial para o ex capitão e hoje técnico Dunga, altamente criticado em diversos momentos desde que assumiu o comando do Brasil.
Em relação aos jogos de hoje, a Holanda mostrou a que veio, e como veio: com garra, técnica, precisão e arte. Já o Brasil está demonstrando firmeza e bom preparo de quase todos os jogadores. Este é um confronto que eu não queria que ocorresse. E, sinceramente, ficarei feliz por qualquer seleção que ganhar, e triste pela qual sair derrotada.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Um duplo em mim

Eu, que nem sei de mim,
pouco sei de outrem.
E se o conhecimento é uma metáfora,
eu sou metonímia, com inversões e contradições
encerradas no sujeito líquido,
que não se conhece e conhece a ninguém:
tudo passa na vida, nada permanece.
E o sujeito oculto, minha outra face,
que acredita na solidez,
esse sim se faz presente e eterno.
Parece sensato.
No entanto, ambos correm o risco de enlouquecer.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

No limite do sistema

Depois do último post, de ler mais Thoreau e de dar aulas no Estado, cheguei à conclusão de que existe um problema: encontro-me no limite do sistema. Semana passada, sério, pensei que não iria sobreviver nesse fim de mundo. O Velho Marinheiro também pensou. E o que me deixa mais aliviada é saber que não estou sozinha. Tenho certeza absoluta de que muita gente está nesta situação. Sei que tenho apresentado um quadro de pessimismo ultimamente, mas não estou aguentando tanta desordem. Quem assistiu e prestou atenção nos diálogos de Edukators sabe muito bem o que estou dizendo.
Viver a ilusão da democracia e a ditadura do capital (como afirmou Meszaros) concomitantemente é a regra básica do sistema: "exaurir todos até o limite para que não possam reagir". As pessoas, sob essas condições, não são felizes, e isso explica o fato de eu estar ocupando a mente com leituras mais otimistas, que me fazem pensar que a vida é um barato e é muito bom estar vivo e com saúde para realizar muitas coisas. Inclusive li, há pouco tempo, uma crônica de Zuenir Ventura sobre Darcy Ribeiro, sendo este, talvez, o brasileiro mais otimista que conheci ao longo dessas duas décadas que estou viva.
Estar no limite do sistema é condição fundamental para refletir o que de fato é o ser humano e até que ponto chegamos, para não vivermos como animais assustados achando que a felicidade está perdida. Já perdi totalmente a esperança de mudar o mundo, mas afirmo com convicção de que já transformei muitas coisas ao redor, inclusive pessoas. Este é o curso da vida e da mudança: reconhecer o problema e depois agir. Por isso não abro mão da consciência social. Esta é uma das formas de sobreviver quando se está no limite do sistema.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Um post sem expressão

Todo mundo vive um dia (ou vários) que, em seu término, a sensação de "estar à toa" prevalece, a impressão de que o dia se foi e nada foi feito, e que se este tivesse sido o último, o arrependimento seria dos maiores. Como hoje foi exatamente isso que me ocorreu, não há muito o que expressar. Quando tudo se apresenta no vazio, nada faz sentido. Penso que num dia como hoje, a composição de Chris DeGarmo e Tate (meu grande ídolo) representa muito para mim.


No chance for contact
There's no raison d'etre
My only hope is one day I'll forget
The pain of knowing what can never be
With or without love it's all the same to me.

PS: Evidentemente, também estou pensando que este post foi à toa.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Quer saber? Pague.

Tem dias que acordo com uma tendência quase anarquista (enquanto corrente filosófica). Hoje é um desses dias. Em tempos de indignação, a maior inconformidade é referente ao conhecimento, pois até este foi engolido pelo mercado. Em linhas gerais, o conhecimento também é uma mercadoria.
Às vezes fico pensando que o conhecimento tinha outro valor antes da lógica do capital se estabelecer de vez. Conhecer a natureza (e o tempo), a vida, os símbolos da sociedade à que se pertence, os conflitos... Tudo era muito mais importante, fazia muito mais sentido para o homem. E realmente penso que isso é o que, de fato, é válido para nós. E então os anos passaram, e desde então, com a divisão e "flexibilidade" do trabalho, é necessário um tipo de conhecimento que requer condições econômicas, a exemplo dos diversos cursos que um sujeito abstrato (o mercado) exige, GARANTINDO retorno, o que é uma grande ilusão. Comprar este conhecimento - isso quando realmente podemos afirmar que haverá um aprendizado - é como se estivéssemos nos preparando para o sucesso. Quer dizer, não se deve conhecer o fracasso, as dificuldades. O importante é estar sempre bem e não conhecer as maldades do sistema capitalista. Mas Gariel, o Pensador já nos alertou que "aquilo que o mundo me pede não é o que o mundo me dá".
Por uma questão ideológica, não sigo esta tendência. No entanto, o desejo por aumentar o meu conhecimento tem um preço, e é altíssimo. E eu não posso pagar para tê-lo e me aprimorar enquanto ser humano. Isso é revoltante. E reconheço que, enquanto busco isso, tem gente tentando conseguir um trocado para comer, e isso me deixa ainda mais idignada com a espécie de sociedade que construímos; para ser sincera, chega a me dar asco.
Agora é assim: quem desejar saber que pague. Quer um estudo diferenciado? Pague. Quer conhecer o universo da informática? Pague. Quer aprender um novo idioma, um instrumento, uma forma nova de pintar guardanapos? Pague. Quer ouvir a orquestra sinfônica, ler um livro (seja de vampiros mequetrefes ou de quetsionamentos reflexivos), conhecer melhor a si mesmo com alguém que estudou anos o pensamento do homem? Pague. Pagar é poder.

terça-feira, 8 de junho de 2010

A saturação do amor - III

Chegamos ao fim da série. Na verdade, o que tentei fazer nos dois posts sobre a saturação do amor foi apontar a instabilidade e fragilidade dos laços humanos. Somos seres contraditórios, e isso não é totalmente ruim. As contradições geram dúvidas e estas proporcionam o aprimoramento dos indivíduos.

Em tempos de desorientação, devemos reconhecer algumas coisas. A primeira delas é que, no mundo moderno, o indivíduo é a medida de todas as coisas, é o centro do entendimento, é o indivíduo que se faz por si, constrói a si mesmo, é livre e ao mesmo tempo determinado. Depois, diante desse individualismo, o amor enquanto objeto simbólico encontra-se apagado. ofuscado. Existe uma dificuldade de se entregar ao outro.
Mas eu acredito, sinceramente, que a música Under Pressure, composta e interpretada por David Bowie - além da versão encantadora de Freddie Mercury - representa o meu parecer final desta série:

A insanidade sorri; sob pressão nós estamos pirando
E não podemos nos dar mais uma chance.
Por que não podemos dar ao amor mais uma chance?
Por que não podemos dar amor ...?
Porque amor é uma palavra tão fora de moda
E o amor desafia você a cuidar
Das pessoas no limite da noite
E o amor desafia você a mudar nosso modo de
Cuidar de nós mesmos
Esta é nossa última dança
Esta é nossa última dança
Trata-se de nós mesmos
Sob pressão
Sob pressão
Pressão.

sábado, 5 de junho de 2010

A saturação do amor - II

O que significa relacionar-se com alguém? Creio que hoje estamos preocupados com uma coisa e falando de outra. Relacionar-se com alguém. Todo mundo quer, mas será que nossa preocupação não reside na cristalização, no congelamento das relações? Será que todos estão procurando um amor de verdade, algo firme, duradouro, ou realmente desejam um manto leve para evitar sofrimento, renúncia, decepção – enfim, algo que possa ser desfeito sem dor – e, o que é melhor, com a consciência limpa?
Não estou certa do que pretendo dizer, mas creio que as perguntas supramencionadas favorecem muito uma das diversas formas de relacionamentos e que, usando um conceito marxista, defino como o fetiche da mercadoria.
Relações de casualidade, como o ficar ou os encontros com fins específicos remetem à satisfação individual, podendo vir de ambas as partes, claro, e o prazer está em conseguir aquilo que se deseja. É prazeroso conquistar algo, e por isso essas relações acabam sendo mais importantes do que os relacionamentos tradicionais, firmes. É melhor conquistar quantitativamente do que amar alguém e conquistar a mesma pessoa em diversos aspectos em seu cotidiano – afinal, será que um dia tudo que se é possível conquistar em alguém não vai acabar? A questão fundamental, portanto, é a essência do que a conquista significa para cada indivíduo e como ela pode ser prazerosa.
Usar o termo fetiche da mercadoria é, desta forma, adequado se considerarmos o fato de que as pessoas preferem investir em relações curtas e líquidas para não sofrerem e ao mesmo tempo não ficarem sozinhas, isto é, para se sentirem satisfeitas sem grandes esforços. O prazer está em “consumir a mercadoria”, para depois descartá-la, visto que tudo o que se consome perde sua utilidade em algum momento. E a nossa cultura, por ser extremamente consumista, preza os produtos de uso imediato, aqueles que proporcionam prazeres efêmeros, instantâneos e que dão a sensação de bom investimento para o consumidor. Esta é uma cultura que preza leveza, novidades e variedades. Amar torna-se mera redundância (apesar de que, como disse no post anterior, é isso que todos querem no fundo), uma proposta quase indecente, falsa, cínica e dissimulada na medida em que existem diversas mercadorias à disposição, que querem ser consumidas em nome do prazer. O homem é, indubitavelmente, uma mercadoria, e o fetiche da mesma é intrínseco a esta sociedade capitalista. E, como disse Bauman, o amor mais parece uma hipoteca baseada num futuro incerto e inescrutável. Quem deseja, portanto, hipotecar seu futuro?
O amor parece uma palavra fora de moda, como escreveu David Bowie, já saturou, já deu o que tinha de dar. Amar exige coragem, humildade e reconhecimento em escalas indescritivelmente enormes e desafiadoras. Ninguém quer correr e assumir riscos de verdade. Mas acabamos nos esquecendo de que o fetiche da mercadoria, neste caso, fragiliza os laços humanos de forma brutal, pois conviver com o outro e conciliar ou estabelecer consenso de projetos de vida torna-se praticamente uma missão impossível; o individualismo fala mais alto constantemente.
Como resolver todas essas contradições? Existe uma solução viável ou plausível acerca de tantos conflitos humanos? Deixo a pergunta em aberto para a próxima vez que resolver escrever.