quinta-feira, 22 de julho de 2010

Eu sou eu e a minha circunstância

O que me incomoda profundamente no caso do goleiro Bruno é simplesmente o fato de que "Poxa, o goleiro do Flamengo, campeão brasileiro, fazendo isso?". E eu digo: "E daí?". Ele deve servir de exemplo pra quem? Pra ninguém. Pouco importa se ele é o goleiro do Flamengo, o coadjuvante da novela das 15 horas do SBT ou o anônimo que não faz diferença para ninguém no mundo. A sua condição não importa, uma vez que ele é também um ser humano e está sujeito a realizar coisas grandiosas ou miseráveis e assustadoras. Quem se lembra da história de Lucius Domitius Ahennobarbus, mais conhecido como Imperador Nero, sabe muitíssimo bem o que estou dizendo.

O psicanalista Jorge Forbes escreveu um artigo nO Estado de São Paulo (clique aqui) que diz tudo (inclusive conversei com o Velho Marinheiro muitas vezes sobre isso), e para mim encerra o assunto, porque é deprimente ligar a televisão e ouvir este caso toda hora. Um trecho:

Podemos pensar em uma explicação paradigmática, além das particularidades de cada caso, o que o mais das vezes só anda tampando o sol com a peneira: foi o pai violento, a mãe alcoólatra, as más companhias, a péssima educação, o irmão psicopata, etc. Ocorre que a saída da pobreza e do anonimato para a riqueza e a fama, subitamente, gera uma forte crise de identidade. Ter sucesso é cair fora; na palavra "sucesso" existe a raiz "ceder, cair". Quem tem sucesso cai fora do seu grupo habitual de pertinência. Tom Jobim não tinha razão quando dizia que o brasileiro não desculpava o sucesso, pois nenhum povo desculpa, só variam as maneiras de demonstrá-lo. A máxima de Ortega y Gasset ainda é válida: "Eu sou eu e a minha circunstância". E quando a minha circunstância muda abruptamente, fica a pergunta profundamente angustiante: "Quem sou eu?", que fundamenta a crise de identidade.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Ilusão da exclusividade

Nesta sociedade que vivemos, exclusividade é tudo. Pessoas buscam o tempo todo sua liberdade individual com o propósito de serem diferentes, de terem (ou construírem) uma identidade. E como somos bombardeados diretamente pela mídia, a farsa está lançada. Ou seja, o produto é fabricado em massa para ser ferramenta da variedade individual.


Todas únicas, todas individuais, todas escolhem Batons Viva la vida! Seja você mesma!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

Raquel Cristina Araras

Apesar de este ser meu nome e não estar em Barcelona, a paráfrase do filme Vicky Cristina Barcelona só aconteceu porque realmente pensei que o filme fosse uma espécie de biografia da minha pessoa através de duas personagens, não só por se tratar de conflitos existenciais e pessoais (ao contrário do que muitos imaginam, pensando em conflitos amorosos) mas justamente por apresentar questões reflexivas e que proporcionam insegurança às pessoas.
Com um cenário belíssimo e uma trilha sonora encantadora, os diálogos soam fundamentais para compreendermos aquilo que nos é estranho e desconhecido. A verdade é que tudo o que parece diferente acabamos recusando por medo, por receio das consequências. Afinal, a regra de nosso mundo líquido é que cada um se responsabilize por atos e escolhas, pensando ou não no que pode vir depois.
Justamente por isso, procuramos confiança e segurança, sobretudo nas pessoas. Traçamos planos e criamos metas o tempo todo porque pensamos que estando bem com um parceiro, o retorno é garantido, a satisfação é plena e nada deve dar errado. No entanto, a contradição é grande, porque também é ordem moderna a insatisfação crônica, e esta doença me acompanha incessantemente, sobretudo na vida pessoal.
Se prestarmos atenção em Vicky, veremos que ela se encontra o tempo todo fechada para negociações - principalmente amorosas - porque acredita ter construído e elaborado um cotidiano e futuro sem erros e imprevistos. Mas a partir do momento que outra pessoa minimamente estranha e com propostas incomuns surge em sua vida, Vicky parece estar num poço de dúvidas e transtornada com o véu não mais encoberto do desconhecido.
Cristina, porém, apresenta um quadro totalmente diferente. Livre, leve, solta e entregue a um mundo onde tudo pode fluir (inclusive as experiências de vida), é aquele pessoa que realmente só tem certeza do que não quer, porque não sabe o que realmente procura, agarrando, assim, todas as oportunidades que lhe surgem, mesmo que sua vida acabe mudando totalmente. Não digo que isso é mera ingenuidade ou mente de quem ainda não amadureceu partindo do pressuposto diante das escolhas - que parecem ilimitadas - que temos, o mundo nos apresenta muitas coisas, e na angústia de tentarmos nos encontrar, acabamos nos perdendo cada vez mais. Este é o caso de Cristina, que tenta viver intensamente. Como ela, já pensei diversas vezes que tenho muito a expressar e mostrar artística e culturalmente, mas talvez me falte talento ou até mesmo uma estrutura adequada para tanto.
Até o final do filme, muitas idéias passaram pela mente; algumas estão aqui expostas. Mas ficou claro que, dentre todos os pensamentos, quanto mais tememos o desconhecido por acreditar que temos tudo, mais ele se fortalece e nos surpreende. E quanto mais perdidos estivermos, menores serão as chances de nos encontrarmos.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Primeira semifinal definida

Que o Brasil é o país do futebol, não há dúvidas, apesar do esporte não ter surgido por aqui. Em qualquer lugar que se anda é possível encontrar um estabelecimento de futebol society, um gramado, uma quadra não muito bem estruturada ou até mesmo uma rua improvisada que sirva de campo, tendo ou não areia, asfalto ou grama. Enfim, treinando em clubes ou na rua perto de casa, por onde se passa, aqui tem futebol.
Não tenho muito o que comentar em relação ao jogo do Brasil contra a Holanda. Quem assistiu e ouviu todos os (inúteis ou relevantes) comentários de Galvão Bueno e seus comentaristas ou de Milton Neves, Datena e Denilson na Band sabe que o Brasil apresentou um futebol bonito no primeiro tempo e no segundo a camisa de Orange brilhou e desestruturou e abalou a camisa verde e amarela. Como disse no post anterior, fiquei triste pelo Brasil, claro. No entanto, a Holanda também fez por merecer a vitória e fiquei satisfeita.
E vamos parar de culpar o senhor Jagger. Isso é delírio de gente que não anda muito ocupada e não tem coisa para fazer (ou que talvez não entende e/ou não racionaliza o futebol).

Agora, emocionante mesmo foi o jogo de Uruguai e Gana. Confesso que fiquei meio atordoada com os últimos acontecimentos em tão pouco tempo, e pensei que o coração fosse rasgar o peito e dar um salto pra fora. Luis Suárez foi o grande herói. Na cobrança de falta em que tudo estava perdido para o Uruguai, o jogador foi tão ousado que, sobre a linha do gol, colocou as duas mãos na bola para evitar que esta entrasse. Naturalmente, ganhou uma bela expulsão e um pênalti.

No exato momento em que isso ocorreu, disse para minha irmã que tanta ousadia foi a melhor coisa que ele poderia ter feito, porque o Pênalti não é a garantia exata de gol (e nesse caso, a expulsão seria indiferente nesse jogo, já que estava no fim). Nem Suárez acreditou quando o batedor de Gana errou na cobrança. Eu também não. Depois, todos já sabem o que aconteceu.
Pensei muito na cena desde o começo da falta até o gesto do uruguaio. Para mim, foram os segundos mais emocionantes da Copa até então. Penso que pouquíssimos jogadores fariam o mesmo. Cheguei até a imaginar uma jogada desse tipo no jogo do Brasil e Holanda. Não consegui visualizar ninguém fazendo o que foi feito por Suárez. Graças a ele, querendo ou não, o time sul americano garantiu vaga na semifinal. Corajoso e ousado, ele mudou o rumo do país na Copa e deu uma chance para a vitória.