segunda-feira, 31 de maio de 2010

A saturação do amor - I

Existe hoje um grande paradoxo que, ao que me parece, é inerente ao homem desses tempos líquidos. Por um lado, este homem nunca esteve, em momento algum da história, tão livre quanto atualmente. Quer dizer, nunca pensou e atingiu elevado nível de liberdade quanto acredita ter. E tanta liberdade gera espantoso individualismo, claro. Um individualismo sem limites, que surge, penso eu, de um processo histórico-social com a mudança no modo de produção. O amor, nesse estado, é simples figura quimérica, é repensado e reestruturado de acordo com o interesse de cada um. Enfim, é um investimento, e desse investimento esperamos, evidentemente, um retorno, acreditamos que existe um prazo de garantia que nos proporciona segurança.
Por outro lado, parece que as pessoas nunca precisaram tanto de outra, nunca se sentiram tão frustradas, tão sozinhas, com tantas incertezas em relação ao amor. Justamente por tratarem-no como investimento, não querem assumir riscos, não estão dispostas a conciliar projetos que, aparentemente, são incompatíveis. Por fim, afundam num mar de solidão e confusão. Sabem que esta sociedade é individualista e acreditam que é possível ser feliz sozinho, mas mesmo assim querem desesperadamente alguém, desejam o outro para envolver-se em trocas de carinhos e ouvirem elogios que elevam a estima, mesmo na mais sombria noite. Não querem se sentir solitárias. Quem quer, afinal?
Como o homem não aprende e não está muito acostumado a lidar com certas situações, às vezes cai num tremendo erro. Na angústia e desespero por encontrar um “amor de verdade”, busca, ilude-se, busca de novo, apaixona-se e aí começa o problema, porque depois de tantas tentativas mal sucedidas, pensa, mais uma vez, que encontrou a pessoa certa. Então o outro passa a ser a razão de sua existência, o amor perde o seu real estado de delírio universal e o “eu te amo” vira uma rotina, uma cobrança (porque caso um fale a frase mais dita em todo o mundo e o outro não responder à altura, qualquer um consegue prever o desastre). E como tudo começou repentinamente e o “eu te amo” chegou bem cedo na vida dos desiludidos, a saturação do amor não deve tardar a aparecer. Vai saturar mesmo, porque etapas importantes foram puladas ou interrompidas, e tudo chegou ao ponto máximo relativamente cedo. Eu não espero coisas diferentes de vários relacionamentos que possuem essas características, ou que passam a adotá-las rapidamente. E quando ocorre a saturação, não é necessário que eu explique o processo que se desenrola depois.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Quando o tempo não corre...


Man... probably the most mysterious species on our planet. A mystery of unanswered questions. Who are we? Where do we come from? Where are we going? How do we know what we think we know? Why do we believe anything at all? Countless questions in search of an answer, an answer that will give rise to a new question, and the next answer will give rise to the next question and so on... But in the end, isn’t it always the same question? And always the same answer? The ball is round. The game lasts 90 minutes. That’s a fact. Everything else is pure theory.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Como se pega um vírus

Existe um vírus ao qual ninguém está plenamente imune. Este vírus é o do encontro quase cataclísmico entre o "eu" e sua respectiva vocação. Por tanto, nem preciso dizer que que esta espécie de vírus está em constante mutação, adaptando-se dentro de cada indivíduo que habita este solene planeta.
Certa vez, uma mulher, quando respondi que estava cursando Ciências Sociais, disse que eu iria morrer de fome se resolvesse investir nesta área. Ela era professora de Matemática e sua convicção era tanta que no fundo, mas bem no fundo, acho que ela queria mesmo era me intimidar. Sem ficar preocupada em dar a resposta certa, apenas afirmei que era apaixonada pelo curso, e que minha conscientização de tudo que envolve nossa contraditória sociedade só se concretizou de verdade após iniciar esta graduação, que na verdade é um ofício: o cientista social é, como diz Maria de Moraes, um artesão intelectual.
E é por isso - e somente por isso - que o curso de Ciências Sociais é a fusão entre vida pessoal e inteletual. Quando este salto de qualidade ocorre, o processo é irreversível. Pronto! Contraí o vírus, não estou imune a ele e ainda não inventaram sua cura. Ele me acompanhará pelo resto da vida, ainda que eu não trabalhe especificamente com o que ele pode me oferecer ou mesmo que eu morra de fome: ele já está hospedado em mim e em mim ficará para sempre, como o gosto pela leitura, a paixão pela música, o prazer em conversar.
Esta geração de estudantes é, sem dúvida, a mais pressionada de todos os tempos no que concerne à responsabilidade em fazer a escolha correta, precisa, no momento adequado de sua vida. Eu me considero uma mulher de sorte por ter acertado "de cara" na minha escolha. Mas todos deveriam saber que não somos obrigados a acertar de primeira, e somos muito menos obrigados a tomar qualquer decisão antes do momento que julgamos exato. Vírus é algo que se pega, que se contrai. Ele não surge em nós quando queremos. Este vírus é o resultado de todo um processo, de toda a conduta ideológica e ações particadas na vida, ainda que realizadas tardiamente.

domingo, 9 de maio de 2010

Enigmas do século XX

Esta sociedade que vivemos, a capitalista, é muito criativa. Tal é o ponto de criatividade que chego a ficar assustada quando descubro mais uma grande sacada de gênio, esperando, na verdade, a próxima cilada do destino.
É incrível - e absurdo! - que o capital consiga controlar a vida de todos. É tão ditatorial quanto um próprio regime militar. Consegue se adaptar a quase todas as mudanças. Sua flexibilidade faz com que, mesmo num período de crise, ele se sobressaia a tudo. Mesmo quando muitos estão morrendo, estão desesperados, estão na condição desumana da própria existência do ser, o capital consegue se fazer mais valorizado. Exemplo disso está no documentário The Corporation.
Há uma conexão interessante entre a ascensão do Fascismo na Europa e a consciência dos extremistas sobre o poder corporativo, pois há uma percepção de que o fascimo cresceu na Europa com a ajuda de grandes corporações.
Mussolini era admirado em todos os segmentos. Os empresários o adoravam, os investimentos subiram. Quando Hitler assumiu o poder, o mesmo aconteceu na Alemanha. Os investimentos subiram lá. Ele controlava os trabalhadores. Ele se livrou dos esquerdistas perigosos. As oportunidades de investimento melhoraram. Não havia problemas. São países maravilhosos.
Uma das maiores histórias não contadas do século XX foi o conluio entre empresas, sobretudo americanas, e a Alemanha nazista. Primeiro, como as corporações americanas ajudaram a reconstruir a Alemanha e apoiaram o regime nazista. Quando a guerra começou, acharam um modo de manter tudo funcionando. A General Motors manteve a venda do Opal. A Ford manteve suas operações.
Empresas como a Coca-Cola não podiam manter a venda da Coca-Cola. Então, eles inventaram a Fanta Laranja para os alemães. Foi assim que a Coca manteve seus lucros. Quando você bebe Fanta Laranja, é a bebida nazista criada para a Coca continuar faturando enquanto milhões morriam.
Quando Hitler assumiu o poder em 1933, seu objetivo era destruir os judeus. Era uma atividade tão vasta que precisava de computadores. Mas não havia computadores em 1933. O que existia eram os cartões perfurados da IBM que controlava as informações segundo os furos no cartão. Não existia software pronto como existe hoje. Cada aplicativo era personalizado. Um engenheiro o configurava pessoalmente. Milhões de pessoas de todas as religiões, nacionalidades e características passaram pelos campos de concentração. Era um extraordinário programa de gestão de tráfego que exigia um sistema da IBM em todas as ferrovias e nos campos de concentração.
Não importa o que está acontecendo no mundo. Alguém precisa e deve manter o capital em circulação para que o modo de produção capitalista possa continuar existindo.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

O verdadeiro 1º de maio


Achei interessante a imagem elaborada pelo Google no feriado de 1º de maio. Mas esta data é muito equívoca, e não esqueço do meu eterno mestre de política dizendo que "1º de maio não é dia do trabalho, é dia do trabalhador!".
Assistindo à gravação de uma peça adaptada neste dia, percebi que nós, trabalhadores, temos muito a ver com um dos protagonistas:
"Eu, eu sou um jumento. Não sou bicho de estimação. Não tenho apelido, não tenho nome, nem estimação. Sou jumento e pronto. Na minha terra também me chamam de jegue. E me botaram pra trabalhar na roça a vida inteira. Trabalhar feito um jumento. Trabalhar, trabalhar, TRABALHAR. Pra no fim... nada.
Minha pensão, nenhuma cenoura. Acho que é por isso que às vezes me chamam de burro. Eu não me incomodo. Mas outro dia, eu estava subindo um morro com 500 quilos de pedra no lombo. Estava ali, subindo, quando um pai d'égua falou assim: 'Mas que diabos de mula preguiçosa!'. Quando fui ver, A MULA ERA EU. Aí eu parei: mula? Ah, aí já é demais! E resolvi dar no pé. Tomei a estrada que leva à cidade e fui seguindo, naquela humilhação, naquela escuridão, naquela solidão que nem sei".